Atividade Complementar Mód. 11



Marcos Bagno

Doutor em Língua Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Lingüística pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Graduado em Letras pela UFPE. Professor do Departamento de Lingüística da Universidade de Brasília (UnB), onde atua na graduação e no programa de pós-graduação em Lingüística.



RELATO - ATIVIDADES COMPLEMENTARES DO MÓDULO 11

ALUNO: LUCIENE HELOÍSA ANDRÉ


TUTOR: PROFª DEISE MENEZES CUPERTINO FUKUOKA

TURMA: 00224 - LICENCIATURA EM PEDAGOGIA UNICID SP

MÓDULO: 11 DATA DE ENTREGA: ____/____/____

CONFERÊNCIA: PRECONCEITO LINGUÍSTICO

CONFERENCISTA: MARCOS BAGNO


INTRODUÇÃO

Nesta conferência, Marcos Bagno faz uma abordagem a respeito do preconceito lingüístico e sua força na sociedade. Trazendo dados apresentados em seu livro de mesmo nome, Marcos Bagno comenta os mitos que rondam o ensino e a aprendizagem da língua portuguesa.

Para a Lingüística, os chamados erros gramaticais não existem nas línguas naturais, salvo por patologias de ordem cognitiva. Segundo os lingüístas, a noção de correto imposta pelo ensino tradicional da gramática normativa origina um preconceito contra as variedades não-padrão.

De acordo com o professor Marcos Bagno, o preconceito lingüístico é uma forma de preconceito a determinadas variedades lingüísticas que acabou consagrando alguns mitos que precisam ser identificados e dissecados, a saber:

Monolinguismo

"A língua portuguesa apresenta uma unidade surpreendente"

O Português não é um milagre lingüístico em que todos se entendem perfeitamente de norte a sul. Existe uma variação lingüística determinada pela origem geográfica, faixa etária, classe social, categoria profissional, nível de escolaridade, dentre outros fatores formadores desta diversidade.

Só em Portugal se fala bem o Português


"O brasileiro não sabe falar bem o português"

Ainda hoje, o fantasma colonial assombra o povo brasileiro que tem suas peculiaridades, cuja língua foi construída a partir da diversidade de raças e culturas. O brasileiro fala muito bem a sua língua materna, respeitadas as especificidades de cada região. Existe a língua culta ensinada na escola, contudo, é importante ressaltar que a nossa literatura é de grande valor e alcance literário. Já a maior parte da população brasileira, faz uso do português "não-padrão" cuja variedade linguística é tipicamente nossa, não correspondendo em absolutamente nada ao português de Portugal. O que ocorre é que na língua falada, as diferenças entre o português de Portugal e o português falado Brasil são tão grandes que muitas vezes surgem dificuldades de compreensão, tanto que determinadas expressões portuguesas possuem um sentido completamente distinto se proferidas em nosso país. Diferente da escrita formal em que a ortografia é praticamente a mesma, com poucas diferenças. Portanto, nenhum dos dois é mais certo ou mais errado, mais bonito ou mais feio: são apenas diferentes um do outro e atendem às necessidades lingüísticas das comunidades que os usam, necessidades estas que também são diferentes.

O Português é muito difícil

Para o autor, do ponto de vista lingüístico, nenhuma língua é difícil ao seu próprio falante. É claro que um estrangeiro encontrará dificuldades para aprender nosso idioma como ocorre em qualquer parte do mundo. É preciso considerar a "intuição lingüística" e o "saber prévio". Por exemplo, desde muito cedo, a criança já domina perfeitamente sua língua materna. Hoje, a Pedagogia Lingüística moderna aproveita o conhecimento prévio do aluno e busca aperfeiçoar e ampliar esse saber.

"Não há língua fácil ou difícil. Todas elas se equivalem em complexidade e organização. Crianças por volta dos dois anos de idade, em qualquer parte do mundo, aprendem a falar seu idioma com muita facilidade. É possível que este mito se originou a partir da forma como se ensina o português no Brasil, de um modo artificial que não tem nada a ver com a realidade dos alunos, insistindo numa gramática totalmente anacrônica, desestimulando o interesse do aluno pelo estudo da Língua Portuguesa, perturbando a relação professor/aluno, afirma Carlos Alberto Faraco, Doutor em Lingüística".

Redação de Texto

"É preciso saber gramática para falar e escrever bem"

Quando se fala em Redação de Textos, tradicionalmente, a primeira idéia que ocorre é a tentativa de transformar cada estudante em professor de português. Isto porque a preocupação com a análise sintática e análise morfológica é maior do que a preocupação com o letramento, responsável pela leitura e pela escrita com competência e, consequentemente, pela inserção do aluno na cultura letrada da nossa sociedade. Esta deveria ser a missão número "1" da escola. Bagno acredita que a grande descoberta da Pedagogia Moderna para a Língua é, sem dúvida, a máxima "só se aprender a ler e a escrever, lendo e escrevendo".

"As pessoas sem instrução falam tudo errado"

A estrutura da nossa sociedade elitizada e hierarquizada, infelizmente, contribui para a reprodução da desigualdade social e para a marginalização das classes sociais menos favorecidas que, em sua grande maioria acaba sendo tendo um rendimento escolar prejudicado. A baixa ou nenhuma escolarização desta parcela da população compreendida nas zonas rurais e nas grandes periferias, tende a afastar esses indivíduos dos chamados "bens culturais" da elite, tais como o padrão literário e a estrutura gramatical. Contudo, é preciso ter consciência científica de que o modo de falar destas pessoas humildes, também têm uma lógica lingüística. Para Mágno, o fato de algumas pessoas pronunciarem Cráudia, Praça, Ingreis, Pranta, Praca, dentre outros, está diretamente relacionado a uma questão social e política e, principalmente ao ROTACISMO, que significa uma tendência em transformar encontros consonantais. Porém, essa tendência fonética e histórica da Língua Portuguesa está relacionadas às formas Lingüística que se comparam às línguas das Famílias Românicas originárias do latim, a exemplo do português. Nota-se que este mesmo fenômeno se repete em Clássicos Literários, como por exemplo, "Os Lusíadas", de Luiz Vaz de Camões, em que encontram-se palavras tais como "pruma", "pubricar", "ingreis", tal como falam hoje, as pessoas que não tem escolarização e que, portanto, não tiveram acesso às novas formas que foram codificadas e padronizadas depois de Camões, afirma Bagno.

Determinadas regiões do Brasil falam o português corretamente

"O lugar onde melhor se fala o Português no Brasil é o Maranhão"

Segundo o autor, a idéia de que algumas regiões do Brasil falam melhor o português não tem nenhuma fundamentação científica. Sobre o mito "Maranhão", por exemplo, acredita-se que sua origem está no simples fato dos seus falantes empregarem o pronome Tu, com as flexões da concordância clássica, único traço que se assemelha ao português de Portugal. Acrescentando-se aí a questão da própria História da Colonização Açoriana é que estabeleceu-se esse tendência em classificar tal variedade lingüística como "intrinsecamente" melhor.

“É certo falar assim porque se escreve assim”

Não existe nenhum sistema de escrita capaz de reproduzir fielmente a língua falada, já que a escrita é uma tentativa limitada de reprodução da língua falada. Cada forma escrita será pronunciada por diferentes pessoas de acordo com sua variedade lingüística. Nenhuma língua é falada do mesmo jeito em todos os lugares, assim como nem todas as pessoas falam a própria língua de modo idêntico.

“É preciso saber gramática para falar e escrever bem”

Por muito tempo a língua universal de cultura na Europa foi o latim. Quando o latim se tornou uma língua morta surgiram outras línguas européias, porém nas universidades, o latim continuava sendo usado. Com o passar do tempo, essas novas línguas européias foram introduzidas nas universidades com a mesma metodologia aplicada ao latim, ou seja, as novas línguas vivas eram ensinadas como se fossem mortas, ocasionando um problema de metodologia pedagógica denominado esquartejamento da língua, isto é, os textos escritos eram separados primeiro frase a frase, depois palavra por palavra e depois classificados segundo a análise sintática e morfológica, dando origem ao “Ensino Gramatiqueiro”, baseado na nomenclatura e na classificação que, na prática, não traz nenhum benefício na vida útil do cidadão. Assim, estabeleceu-se o mito da gramática que acaba por desestimular a prática da leitura e da escrita. A prioridade da sistematização do ensino da gramática normativa coloca a leitura e a escrita em segundo plano e isso acaba sendo prejudicial aos alunos, principalmente, nos primeiros anos de escolaridade, em que a principal finalidade da leitura e da escrita é o letramento, responsável pela formação de leitores e escritores competentes. Nesta fase, seria mais apropriado despertar no aluno o interesse pelas artimanhas do universo da leitura, ensinando que a língua se manifesta na sociedade de várias maneiras, com diferentes gêneros discursivos e textuais.

A Pedagogia Moderna propõe esse aprofundamento no ensino da gramática normativa a partir do Ensino Médio, etapa em que o aluno entrará em contato, de fato, com as teorias e reflexões a cerca dos objetos científicos. Deste modo, ao ensinar que a língua é um sistema que também pode ser analisado como objeto científico, naturalmente, o aluno refletirá sobre este eixo de estudo, com o amadurecimento necessário para este campo de aprendizagem. Só assim, se viabilizará uma verdadeira revolução cultural neste país, afirma Marcos Bagno.

“O que os professores podem fazer para romper esse círculo vicioso do preconceito lingüístico?”

Reconhecer a existência deste tipo de preconceito não é o bastante. É preciso trazer visibilidade para este problema que vai muito além do preconceito puramente lingüístico que, na verdade, disfarça um preconceito social. Conhecer seus mecanismos e os mitos que se formam em torno da linguagem são os primeiros passos nesta marcha contra este fenômeno que se reproduz diariamente em nossa sociedade, seja pelos meios de comunicação, seja pelos instrumentos tradicionais de ensino da língua que, por vezes, infiltra e dissemina o preconceito de forma oculta e silenciosa, através dos livros didáticos que, em sua grande maioria, obrigatoriamente, são escritos de acordo com a gramática normativa, conclui o Professor Doutor Marcos Bagno.

SOBRE O LIVRO:

Preconceito Lingüístico: o que é, como se faz (Ed. Loyola) que, desde seu lançamento, em 1999, vem sendo reeditado de modo ininterrupto e constante, com uma edição nova a cada mês. Já perto de atingir sua 50ª edição, o livro é amplamente utilizado nos cursos de Letras e Pedagogia de todo o Brasil.http://www.recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/2268847.

SOBRE O AUTOR:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Marcos_Bagno

Fonte:http://www.videolivraria.com.br/videolivraria/interface/product.asp?template_id=138&partner_id=&utm_source=&departamento=&produto=CONFEReNCIA%3A+O+PRECONCEITO+LINGUiSTICO+%2D+DVD&dept%5Fid=20&pf%5Fid=14098



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